25 de mar. de 2025

Isfa Moreaux, prazer

De onde ela veio, eu não sei dizer, mas simplesmente se agigantou no meu âmago e explodiu para fora, de repente não cabia mais dentro do meu corpo, corpo que estava cheio e gordo. Isfa Moreaux tem nome dado por AI, tem alma de anciã, corpo de uma mãe de 2 filhas, uma mulher de 42 anos, que ama e é livre como aquela guria de anos atrás que escrevia por aqui. Para a minha felicidade e registro, consto aqui que ela nasceu muito bem parida, assistida por um homem, meio garoto, meio filho único, órfão, que também é pai e que já se perdeu muito por ai, e tenta de todas as formas se encontrar, as vezes nele mesmo, mas muito nos que ele ama e serve. Obrigada por ter me parido Bruno Medeiros, agradeço por ter me suprido, me carregado e não ter desistido de mim. Se a Isfa nasceu, grande parte dela veio do teu esperma, da tua dedicação, da tua serventia, do teu companheirismo, única pessoa no mundo que não teve medo de encarar esse ser tão vasto, peculiar, voraz, delirante, demoníaco e apaixonante que sou eu.


O dia que ela nasceu foi 19.03.2025 (quando fez 10 meses que meu pai faleceu)





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 “Você meu mundo meu relógio de não marcar horas”


Você meu mundo meu relógio de não marcar horas; 

de esquecê-las. 

Você meu andar meu ar meu comer meu descomer. 

Minha paz de espadas acesas. 

Meu sono festival meu acordar entre girândolas. 

Meu banho quente morno frio quente pelando. 

Minha pele total. Minhas unhas afiadas aceradas aciduladas. 

Meu sabor de veneno. 

Minhas cartas marcadas que se desmarcam e voam.

 Meu suplício. Minha mansa onça pintada pulando. 

Minha saliva minha língua passeadeira possessiva meu esfregar de barriga em barriga. 

Meu perder-me entre pêlos algas águas ardências. 

Meu pênis submerso. Túnel cova cova cova cada vez mais funda estreita mais mais. Meus gemidos gritos uivos guais guinchos miados ofegos ah oh ai ui nhem ahah minha evaporação meu suicídio 

gozoso glorioso.



Carlos Drummond de Andrade livro O amor natural