7 de jul. de 2011

"veio aquele medo de perder você pra sempre"

Um comentário:

  1. o último diálogo



    Artriste:

    brilha o olho do corvo
    em vigília como o sol turvo

    suicida-te póstuma poesia
    silente na encosta bravia

    onde meu corpo se atreve
    entre teu corpo que emerge


    Melancolia:

    oh ! cúmplice dos incensos
    de perfumes raros aos ventos !

    teu cotidiano não tem (a)preço ?


    Artriste:

    sou eu partindo-me ao meio
    sou eu esvaindo-me entre
    possuído e contemplando tremes


    Melancolia:

    pronuncio teu nome possessivo
    onde não silencias e te resignas


    Artriste:

    rendo-me:

    não temo a solidão tão perto
    tão longe e tão concreto -
    isto não me desespera !


    Melancolia:

    leva-me sem temer palavras ásperas ?


    Artriste:

    levo-te dentro por inteira sem rumo
    seiva que sentia o que te sinto
    em meus sonhos em lascas e sumos


    Melancolia:

    e outra estrela em tuas mãos -
    brilha mais que a minha ?
    e o meu sonho tecido nas tensões ?

    imploro-te: leva-me como troféu
    porque me parti em dúvidas aos céus


    Artriste:

    não há no orvalho estrela alguma
    que arquitetas senão si mesma na penumbra

    o destino é algo infinito
    e infinito sou contínuo e maldito

    tênue te encontrarei em teus (en)cantos
    em meus poemas-sombras e em prantos


    Melancolia:

    descobriremos juntos esta solidão
    até que a retina se feche em silêncio
    e reste a dor íntima precisa ou não


    Artriste:

    intenso o poema perdido –
    vago nesse mar onde o mar não é
    náufrago - mas raso e de vidro

    qual espelho onde espero vivo
    alvo desta armadilha da rotina
    já sem pulso e sem ruído ?


    Melancolia:

    que sou – aquilo que insinuas ?
    golpes nos flancos
    e carinhos de unhas ?


    Artriste:

    não – não posso ser o olhar do corvo
    que me vigia corta e brilha
    mas suporto até o fim o fogo
    de tudo que me persegue e domina

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