o último diálogoArtriste:brilha o olho do corvoem vigília como o sol turvosuicida-te póstuma poesiasilente na encosta braviaonde meu corpo se atreveentre teu corpo que emergeMelancolia:oh ! cúmplice dos incensosde perfumes raros aos ventos !teu cotidiano não tem (a)preço ?Artriste:sou eu partindo-me ao meiosou eu esvaindo-me entrepossuído e contemplando tremesMelancolia:pronuncio teu nome possessivoonde não silencias e te resignasArtriste:rendo-me:não temo a solidão tão pertotão longe e tão concreto -isto não me desespera !Melancolia:leva-me sem temer palavras ásperas ?Artriste:levo-te dentro por inteira sem rumoseiva que sentia o que te sintoem meus sonhos em lascas e sumosMelancolia:e outra estrela em tuas mãos -brilha mais que a minha ?e o meu sonho tecido nas tensões ?imploro-te: leva-me como troféuporque me parti em dúvidas aos céusArtriste:não há no orvalho estrela algumaque arquitetas senão si mesma na penumbrao destino é algo infinitoe infinito sou contínuo e malditotênue te encontrarei em teus (en)cantosem meus poemas-sombras e em prantosMelancolia:descobriremos juntos esta solidãoaté que a retina se feche em silêncioe reste a dor íntima precisa ou nãoArtriste:intenso o poema perdido –vago nesse mar onde o mar não énáufrago - mas raso e de vidroqual espelho onde espero vivoalvo desta armadilha da rotinajá sem pulso e sem ruído ? Melancolia:que sou – aquilo que insinuas ?golpes nos flancos e carinhos de unhas ? Artriste:não – não posso ser o olhar do corvoque me vigia corta e brilhamas suporto até o fim o fogode tudo que me persegue e domina
o último diálogo
ResponderExcluirArtriste:
brilha o olho do corvo
em vigília como o sol turvo
suicida-te póstuma poesia
silente na encosta bravia
onde meu corpo se atreve
entre teu corpo que emerge
Melancolia:
oh ! cúmplice dos incensos
de perfumes raros aos ventos !
teu cotidiano não tem (a)preço ?
Artriste:
sou eu partindo-me ao meio
sou eu esvaindo-me entre
possuído e contemplando tremes
Melancolia:
pronuncio teu nome possessivo
onde não silencias e te resignas
Artriste:
rendo-me:
não temo a solidão tão perto
tão longe e tão concreto -
isto não me desespera !
Melancolia:
leva-me sem temer palavras ásperas ?
Artriste:
levo-te dentro por inteira sem rumo
seiva que sentia o que te sinto
em meus sonhos em lascas e sumos
Melancolia:
e outra estrela em tuas mãos -
brilha mais que a minha ?
e o meu sonho tecido nas tensões ?
imploro-te: leva-me como troféu
porque me parti em dúvidas aos céus
Artriste:
não há no orvalho estrela alguma
que arquitetas senão si mesma na penumbra
o destino é algo infinito
e infinito sou contínuo e maldito
tênue te encontrarei em teus (en)cantos
em meus poemas-sombras e em prantos
Melancolia:
descobriremos juntos esta solidão
até que a retina se feche em silêncio
e reste a dor íntima precisa ou não
Artriste:
intenso o poema perdido –
vago nesse mar onde o mar não é
náufrago - mas raso e de vidro
qual espelho onde espero vivo
alvo desta armadilha da rotina
já sem pulso e sem ruído ?
Melancolia:
que sou – aquilo que insinuas ?
golpes nos flancos
e carinhos de unhas ?
Artriste:
não – não posso ser o olhar do corvo
que me vigia corta e brilha
mas suporto até o fim o fogo
de tudo que me persegue e domina