23 de out. de 2005

Sem Título

Ontem discuti com uma pessoa que eu gosto muito. 23 outubro. Acordei as 8h, típico meu, mas o dia estava chuvoso e tinha vento. Resolvi dormir mais um pouquinho pra ter aquela sensação de domingo. Levanto as 10:30h.Tenho que ir votar, antes termino a leitura sobre saúde integral, dentro do yoga Ananda Marga que pratico, medito, almoço, tomo banho e saio. Voto no não, e vou pro meu cantinho lindo de trabalho. Aqui é um porto seguro pra mim, me apeguei a esse lugar, com a vista linda, muita luz. Meu vaso de violetas. Porta incenso. Bem sozinha estou hoje. Meus amigos já sabem da monografia e não me ligam. Mas hoje eu faria qualquer coisa, menos estudar. O dia estava a minha cara. Triste. Fico aqui, faço pesquisas, leio um pouco, atualizo a minha pauta, mas não me aprofundo em nada. Resolvo ir embora, já começo a achar quer sou a pessoa mais infeliz do mundo. Desligo o computador, vou até a minha avó pra deixar umas encomendas da minha mãe. Lá Teca me acolhe, me diz coisas boas, me inspira. Fantástica mulher da Fábrica dos Anjos. Saio de lá com uma boa idéia...

Rumo a 5ª Bienal do Mercosul aqui em Porto Alegre, mais precisamente o MARGS, chego, estaciono, primeira impressão: vazio. Entro, o 1º artista: Washington Barcala, um trabalho bem diferente, quando lembro do bloquinho, lembro que não tinha bloquinho, mas tinha uma caneta. Peguei um livro mesmo que carrego dentro da bolsa. Escrevi ali, na folha em branco no final. Na boa. Mas mal começo as minhas anotação quando chega um homem perto de mim, por trás, levo um susto! Meu Deus! Hehehe, era um dos seguranças de olho cumprido para ver o que eu estava fazendo, então ele me disse com um sorriso amarelo: "a pensei que a senhorita estava portando uma câmera fotográfica, não pode tirar fotos aqui, sabe?!". Saco. Faço um gesto natural de “ - Seu €‰ßƒ æƒ√€€®˙ˇ¥¯†„£æ„‰iun√ƒ só estou anotando algumas coisas!!!!!!” …respira, respira fundo, Babanam Kevalam, 1 2 3 4 5 …. Então volto para as artes de Barcala: ele trabalha com a tecnica chamada mista sobre tela, usa colagens, sujeira, pedaços de madeira tipo gravetos bonitinhos, panos, desenhos geométricos e matemáticos, manchas de tinta preta, folhas de caderno. Sujeitinho aquele, acha que preciso fotografar o que observo e interpreto. Tudo fica em mim como uma história, um novo olhar. Aposto que ele vai ficar ali 4 meses e não vai sequer perceber a vibração das obras. Tudo bem, volto a integrar o ambiente, ao cheirinho do museu, de estar ali compartilhando com algumas poucas pessoas aquele momento de aprendizagem, interpretação, exercício do silencio. Manuel Espíndola (1921 a 2003), Uruguai. Espírito Renascentista, espaço explorado na pintura geométrica, ilusionista do claro-escuro, da pintura do gesto ou do signo. Abraham Palatinik é brasileiro, esse cara achei um gênio, faz engenhocas e enquadra. Movimento, é isso que ele passa, mas um movimento com ritmo, cadência e cores lindas, demais. Depois vejo Rubem Ludolf, meio confuso, intui à ilusão de ótica, tipico livro de ver figuras 3D, com um poco de influencia da musica eletronica, vale ver, me senti numa rave. Quando chego em Alfredo Volpi, um casal se aproxima, o senhor me pergunta sobre algumas obras de Volpi, a gente discute o básico, algumas influencias que se percebe no artista, ele vê que eu sei, me aplica a pergunta: ”estudas arte?” Não, sou publicitária mesmo, morô!?! “ – pois é, sou diretora de Arte, publicitária.” E um sorriso. Tá, tchau, me deixa aproveitar sozinha esse momento de troca de energias com as obras, com o trabalho inspirado e criativo, conteúdo da alma. Resolvo procurar a escada para o 2º andar de descobertas, mas acabo achando a lojinha do MARGS, tudo que eu queria aquele dia era comprar alguma coisa pra m fazer um pouco mais feliz. R$16 e agora tenho um bloquinho, um lápiz da Bienal e uma caneta linda pra fazer compania pra minha violeta. O bloquinho então intitulei “bloquinho do inusitado” e achei graça. Lá fui em com uma sacolinha do MARGS visitar o que eu chamaria de bem homenageado da 5º Bienal – Amílcar de Castro. Realmente, (estréio o meu bloquinho) ele sabe causar, atordoa a mente, cubista, futurista, movimento, preto, vermelho, amarelo e azul. Da uma sensação de lugar estável e evoluido, muito interessante. Mas também dá uma sensação de vazio, onde só tem quadros pretos. Não gosto muito, aperta o coração. Outra sala, menos sujeira, linhas retas, outra tecnica, mas preto também, é clean por outro lado, motivacional, influencia de Max Bill. Linguagem do movimento Neo Concreto. Deu agora mais do que nunca vontade de estar com ele e fazer coisas inusitadas.

Jéssica Richetti
Domingo, 20:10, 25 out 05.
Sem Título
Rascunhos sobre tela digital
5ª Bienal do Mercosul